No Copiador da correspondência expedida do fundo Câmara Municipal de Almeida, com termo de abertura do dia 28 de dezembro de 1907, eis que encontramos o registo de uma mensagem da Câmara Municipal de Almeida, sendo presidente Manuel Lourenço Vasco, apresentada a sua majestade El-Rei D. Manuel II. O registo dá nota que a mensagem foi entregue na estação de Vilar Formoso, quando o rei regressava do estrangeiro, no dia 4 de dezembro de 1909 à uma hora da manhã.
D. Manuel II (1889-1932) foi o último rei de Portugal, coroado depois de ver o pai e o irmão mais velho serem mortos em 1908, um ano antes da mensagem que partilhamos. Era o segundo filho do rei D. Carlos e de D. Amélia de Orleães, cujo reinado durou apenas cerca de dois anos. Destronado na sequência de um golpe republicano, D. Manuel II exilou-se em Inglaterra até à sua morte.
Além das fotografias do documento propriamente dito, onde consta o registo da mensagem, partilhamos também uma fotografia de D. Manuel II em uniforme de Generalíssimo do Exército Português, datada de 1909 precisamente, o ano da data do documento que partilhamos (fotografia de domínio público do fundo Royal Collection RCIN, de fotógrafo não identificado), e uma fotografia da estação de Vilar Formoso em 1953 (retirada do livro Vilar Formoso: fronteira da paz de Margarida de Magalhães Ramalho, p. 86).
Para os mais curiosos, transcrevemos a mensagem completa, lembrando que este documento se encontra disponível para consulta na Biblioteca Municipal de Almeida – Maria Natércia Ruivo.
«Senhor!
Movida do mais sincero e ardente enthusiasmo, vem a Camara Municipal do concelho d’ Almeida, fiel interprete dos povos que representa, trazer respeitosamente perante Vossa Magestade as mais jubilosas boas-vindas, n’esta hora tão festiva do Vosso regresso tão afortunado a Vossa e nossa querida Pátria.
Cumpre assim esta camara um dever indeclinável, não seja de simples e fria cortezia, mas imposto pela profunda e radicada dedicação para Vossa Magestade, para quem vão, como a mais consoladora esperança todos os fervorosos votos dos nossos corações portuguezes.
Senhor.
Pobres, quasi esquecidos n’estes rudes confins de Portugal, estes povos do concelho d’ Almeida, – ciosos como nenhuns outros, pelo contacto permanente com o estrangeiro, dos sentimentos da sua independência e do orgulho da sua nacionalidade – teem neste[s] certos instantes em que podem saudar-Vos a única feliz compensação do desprezo que veem soffrendo. É que, Senhor! nos é dada a ventura de ter-Vos, à entrada do nosso e vosso glorioso Portugal as homenagens de respeitosa adoração que por todos os títulos vos são devidos.
E nos anima também a crença de que nem por ficarmos tão longe da vossa Corte, andaremos mais arredados do coração de portuguez ou fôra do alcance da Vossa Magnanimidade de nosso Soberano, que não ha-de, nem pode, esquecer o sentido fervor, com que os Vossos destinos, que auguramos venturas, prenderemos todos os nossos pensamentos, como dispostos estamos a sacrificar todos os nossos esforços – Senhor!
Um laço ha ainda a ligar-nos, laço indesoluvel que é o mais justificado timbre do nosso orgulho, – a bandeira gloriosa que aqui sobre todos se levanta, symbolo Augusto da Patria estremecida. Nelle refulge, a par das armas reaes que são as deste paiz que Vós Senhor tão elevastes agora no conceito das nações amigas que visitastes, o escudo da villa de Almeida que era o do
antecessor de quem tendes o nome glorioso, e a sua larga munificencia lhe outhorgou com a dadiva do foral de generosas regalias.
Permiti Senhor! que essa tradição se não quebre e antes, tantos séculos, volvidos, estes povos humildes tenham em Vós também o seu protector desvelado, como em vós todos vemos uma carinhosa ambição dos nossos corações, o inicio de uma nova era de venturas e prosperidades.
São estes os nossos votos pelo bem de Portugal, pela Vossa felicidade que do coração de todos sobe aos lábios espontâneos:
Viva Sua Magestade El-Rei D. Manuel II!
Viva a Família Real Portugueza!
Viva Portugal!»